Em briga de marido e mulher se coloca a colher sempre

Olá, para todos vocês!! O último dia 11 deveria ser de festas e alegria, afinal, foi aniversário deste advogado que vos escreve. Porém, a agressão mais midiática das últimas semanas aconteceu. Mais uma prova de que dinheiro não traz felicidade e que belos sorrisos em sites de fofocas e na TV não garantem a paz de espírito que nosso travesseiro nos exige. Pois bem, Ana Hickmann – de acordo com Boletim de Ocorrência registrado – indicou ter sofrido agressão física (lesão corporal) e violência doméstica de seu marido, Alexandre Correa. Cruel saga de muitas mulheres pelo Brasil e pelo mundo.

A Lei nº 11.340/2006 (Maria da Penha) foi e é um dos maiores avanços na luta contra a violência doméstica e familiar contra mulheres. O consagrado art. 2º dessa lei é mais do que um choque de cultura patriarcal. Assim redigido “Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.”. No caso de Hickmann, a fortuna do casal independe para que ações sejam tomadas pelo Estado e seus agentes públicos responsáveis pelo caso. De certo que até o momento ela não quis fazer valer as medidas protetivas que a lei lhe oportuniza.

Escrevi em dias atrás aqui neste espaço sobre a mencionada Lei, sobre o Projeto “Emprega Mulher”, sobre o auxílio aluguel para a mulher agredida (Lei nº 14.674/2023) e sobre outros bons projetos espalhados pelo país. Acreditar que podemos ter e ser uma sociedade mais justa e fraterna, além de cientes da responsabilidade em proteger a todos, o caso de Hickman expõe a face da violência em uma mulher branca, de sobrenome europeu, moradora de área nobre, rica e famosa. Nessa seara, caro leitor, enquanto escrevia essa parte, acredite, recebia a ligação de uma pessoa alertando que uma amiga acabara de ser assaltada em São Paulo. Percebamos que a violência não escolhe vítimas sob nenhum aspecto. Infelizmente, a impotência no agir em alguns pontos é possível em outros. Para o caso do dia também devemos pensar sobre as possibilidades das vítimas em se fazerem ouvir. Após todo o momento acalorado, o marido de Hickmann expôs em nota como enxerga a situação. Assim escreveu o sujeito “Aproveito a oportunidade para pedir minhas mais sinceras desculpas a toda a minha família pelo ocorrido. São 25 anos de matrimônio, sem que tivesse qualquer ocorrência dessa natureza. Sempre servi a Ana como seu agente, com todo zelo, carinho e respeito, como assim trato as 7 mulheres com quem trabalho no meu escritório!”. Vários tópicos de debate nessas frases do cidadão passíveis de serem consideradas verdadeiras ou opinião vazia como fumaça.

Em meu escritório jamais tive a procura de alguém desse universo, seja da agredida ou do agressor, e confesso ao leitor que na teoria é muito fácil dizer o que fazer ou como reagir, mas na vida prática o buraco é, e sempre é, muito mais profundo. Um colega de profissão, especialista na área de Família, escreveu em sua conta no Instagram o seguinte “O que muita gente não sabe é que a violência doméstica é muito comum em famílias de classe média alta, embora pouco divulgada e denunciada. A síndrome da gaiola de ouro é o fenômeno que impede que mulheres ricas, famosas e autoridades de denunciarem, principalmente pela exposição. A condição social dos casados é vista como preponderante, isto é, como algo a que não se pode perder independente do sofrimento vivido.”. Triste por demais! A mulher como carcereira de si mesma…

Convidei uma amiga a tecer comentários sobre o caso de Ana Hickmann e Aline Costa, servidora pública, mestre e especialista em assistência social no GDF cravou “O relacionamento da modelo e apresentadora apresenta vários episódios, no mínimo, suspeitos sobre possíveis agressões. Além de que, em geral, os episódios de agressão são seguidos de episódios de “Lua de Mel” em que o agressor nega o que fez ou faz juras de que jamais voltará a fazer, levando a vítima a crer que o melhor é dar uma segunda chance ao cônjuge, à família e a história construída juntos. Em 2016, quando seu esposo assassinou o homem que tentou sequestrá-la, todo o Brasil se chocou com a sua frieza e destreza em controlar a situação violenta. Situação que outrora fora considerada heroísmo, também denota o grau de agressividade que Alexandre é capaz de expressar. (…) esses fatos corroboram o fato da atriz se recusar a aceitar as medidas protetivas previstas na Maria da Penha, pois, isto seria aceitar que a fantasia de amor e tudo aquilo que a mente dela criou para superar os eventos traumáticos na verdade não existem e que seu herói e  príncipe encantado, na verdade, não passa de um algoz violento, capaz de tudo para controlá-la e mantê-la sob seu poder, como uma propriedade em que ele é o dono e decide o que deve ou não fazer!”. Ao fim e ao cabo, d-e-n-u-n-c-i-e sempre. Ligue 180!