Os devaneios frequentes dos advogados e uma pergunta

Olá, para todos vocês!! Outro dia estava conversando com um novo amigo. Entre a nossa prosa pós aula, vários assuntos preencheram aquela noite. Desde os costumes locais da cidade e de sua população, ao novo dorama televisivo, o universo Star Wars (escolhendo qual o Jedi favorito de cada um) e a perturbação pela derrota do meu time. Enfim, como todo flamenguista que se preza, o céu e o inferno são bem próximos para nós. Contudo, o que mais chamou a atenção desse que vos escreve foi um tema bastante curioso. Tanto ele quanto eu somos advogados, eu na vida privada e ele na vida pública como assessor jurídico. E no meio de nossa conversa houve uma pergunta que se mostraria reflexiva ao extremo.

Voltei para o meu apartamento pensando sobre nossas divagações enquanto percebia que as luzes de natal já estavam pela cidade, nos jardins, nas praças e na prefeitura. Ao parar num semáforo (sinaleira para alguns), perguntei para mim mesmo em voz alta. Afinal de contas, qual o motivo das pessoas precisarem de advogados? E acredite, caro leitor, as respostas variavam bastante. Posso mencionar que o advogado possui a capacidade técnica que as pessoas leigas não possuem, isto é, lidar com a jurisprudência, com a doutrina, com as teses, com os enunciados, com as súmulas (vinculantes ou não) e, obviamente, com serventuários e juízes, desembargadores, ministros. Mas isso em si não é argumento definitivo. Qualquer pessoa pode começar a estudar e se tornar um advogado. Continuei indo em direção a minha casa.

No som tocava uma música que gosto bastante de uma banda que eu tive o prazer de ver ao vivo duas vezes. Dream Theather, cujo estilo não é assim tão comum em terras brasileiras. O heavy metal progressivo que faz parte o pessoal altamente técnico em seus instrumentos. A música era “A change of seasons” cuja tradução literal é “Uma mudança de estações”. Na letra, há uma parte que continuou a me fazer questionamentos particulares. Dizia assim “Em meu covil de injustiça, crueldade e sutileza, luto para amenizar a dor, luto para encontrar a sanidade.”. Perfeita poesia, não é mesmo?! A música dura por volta de uns 23 minutos entre ritmos, mudanças de andamentos, partes rápidas e mais calmas, melódicas e até guturais. Uma sinfonia moderna que representa a nossa vida diária, ou seja, uma vida sem sustos você só consegue quando a linha do coração fica reta. Aí é o fim!

Cheguei em casa. Vi alguns livros soltos na mesa. Livros que são de literatura extemporânea como a quadrilogia de Sherlock Holmes, técnicos que tratam de novas teorias jurídicas no mundo tributário e tantos outros. O sorriso preencheu meu rosto quando vi no canto da estante uma edição sublime que ganhei do livro 1984, do George Orwell. Ganhei de presente de um casal muito, muito bacana. No marcador de páginas que o acompanha está escrito “Liberdade é a liberdade de dizer que dois mais dois são quatro. Se isso for admitido, tudo mais é consequência!”. Sensacional! Além do mais a pergunta que culminou nesta coluna de hoje continuava a ecoar em minha mente. Afinal de contas, qual o motivo das pessoas precisarem de advogados?

Lembrei de uma colega advogada, na casa dos 20 e poucos anos, que passa por questões pessoais desagradáveis (familiares e de saúde). A mente e o corpo cobram a fatura e não dividem a conta. Ela questiona se continuará ou não nesse universo de causídicos, de advogados… nesse universo particular por vezes machista, retrógrado, misógino e racista. E não nos culpe, leitor, essas raízes do Brasil são de muito tempo, infelizmente, como ervas daninhas em nossa vida coletiva. Essa colega confessou que estava por demais desgostosa com a vida de advogada e tudo que nosso mundo nos impõe. Triste ao saber, mas feliz por ela expor seus sentimentos.

Sem mais exemplos, fui dormir ainda com aquela pergunta na cabeça. Já haviam se passado umas 3 horas desde a conversa que iniciou essa reflexão e ainda tento buscar respostas. Cada dia de profissão se demonstra desafiador. Clientes, estagiários, boletos (eles sempre acompanham) e toda sorte de soluções e de problemas. Hoje deixarei para o leitor a mesma pergunta que me fiz antes da faculdade, durante a graduação, e neste momento de profissional… Afinal de contas, qual o motivo das pessoas precisarem de advogados? Aceito opiniões, hipóteses e devaneios, basta escreverem para esse advogado. Abraço forte!