Olá, para todos vocês!! Há um cantar muito bacana que servia de alarme no celular de minha mãe. Ela, como professora que sempre foi, gostava daquele ritmo, daquela letra e da cultura ali envolta. Assim dizia parte da canção “O boa noite pra quem é de boa noite. O bom dia pra quem é de bom dia. A benção meu papai a benção. Maculêlê é o rei da valentia. Tindolelê auê Cauiza. Tindolelê é sangue real. Eu sou filho eu sou nego de Aruanda. Tindolelê auê Cauiza. E Cauiza, de onde e que veio.”. Ela é de uma simbologia espetacular e isso nos fará conversar hoje sobre um fato ocorrido.
Anitta é uma divisora de águas, para quem gosta e para quem não gosta do trabalho que ela desenvolve, isto é, música e encenação visual. Assim como ela, outras cantoras do pop mundial expõem muitas questões que confrontam ao tradicional e ao conservadorismo religioso em muitas oportunidades. Vide Madonna que nos anos 80 lançou “Like a prayer” e causou um grande alvoroço ao usar objetos litúrgicos e ter seu clipe com cenas em igrejas. Outra que causou arrepios foi a Lady Gaga com suas vestes bastantes irreverentes e suas letras ainda mais contundentes. Isso sem contar Luiza Sonza, Miley Cyrus e outras… Mas Dr. Rodrigo, onde está o Direito nessa questão toda? Ah! Meu ilustre leitor, acalma-te. Anitta colocou a sua religiosidade para o público, demonstrando a qual caminho decidiu seguir e fez disso uma canção em homenagem ao Candomblé chamada “Aceita”. E chegamos ao ponto do dia, a intolerância religiosa.
No Brasil, essa questão é bastante sensível. O Ministério Público do Paraná define sendo “a atitude odiosa e agressiva a culturas e opiniões diferentes das suas próprias, sendo a intolerância religiosa materializada por condutas de deslegitimação de crenças e religiões que diferem das suas, de modo a estigmatizar, excluir, desqualificar, segregar e silenciar as crenças e rituais considerados inferiores, em uma tentativa de manutenção do exercício de poder do que é socialmente visto como hegemônico.”. Até existe um dia dedicado ao combate a essa praga social chama intolerância religiosa que está lá na Lei nº 11.635/2007 que no seu artigo 1º diz “Fica instituído o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa a ser comemorado anualmente em todo o território nacional no dia 21 de janeiro.”. Certo, Dr. Rodrigo. Contudo, onde estão as sanções legais? S-e-n-s-a-c-i-o-n-a-l a sua pergunta. A nossa Constituição já garante a liberdade religiosa no artigo mais famoso, o 5º, IV “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.”.
Falando de números, o Brasil possui – de acordo com o site da Secretaria de Comunicação (Universidade Federal de Goiás) – 64,6%, Igreja Católica (em 2000 eram 73,6%); 22,2%, Igrejas Evangélicas (15,4% antes); 2%, Espíritas (1,3% no Censo anterior); 0,3%, Umbanda e Candomblé (mesma porcentagem dos dados de 2000); 2,7% outras religiões (eram 1,8%); 8% sem religião (eram 7,4%); e 0,1% não sabe ou não declarou (o porcentual anterior era de 0,2%). Esse recorte mencionado de números compreendeu a comparação entre 2000 e 2010. Em notícia ainda mais recente datada de 2020, chegou-se a 50% de católicos, 31% de evangélicos, 10% sem religião declarada, 3% espíritas, 2% Umbanda, candomblé ou outras religiões afro-brasileiras, 1% ateus e 0,3% judaicos. Perceba então que as variações nos últimos 20 anos são comuns em todas as religiões e isso é saudável quando pensamos no pluralismo religioso e no respeito ao culto e a crença de cada um.
Por fim, Anitta perdeu uns 200 mil seguidores em suas redes sociais quando deixou absolutamente clara sua posição religiosa. Pelo visto, o direito dela de se manifestar foi tolhido pelos fiscais da fé alheia. Quando a liberdade sagrada de cada um é reduzida a pó porque qualquer outro se acha com a razão de ditar regras, costumes e para qual santo ou santa ou mesmo entidade deve ser oferecidas orações é de um nível absurdo de senso coletivo e respeito aos demais. A regra é clara desde sempre… seja a-b-s-o-l-u-t-a-m-e-n-t-e o que você quiser, só não seja chato ou atrapalhe a vida do coleguinha. Pelo direito de rezar como e para quem eu quiser!!